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"Eram jovens, como haviam de ser.
Conheceram-se ao acaso, como muito acontece.
O interesse foi mútuo, e foi o suficiente para que trocassem telefones.
Não muito tempo depois, já degustavam dos prazeres da tenra paixão.
E foi com o tempo que decidiram ir morar juntos.
Planos; foram feitos muitos. Alguns deram certo, outros não.
Queriam criar filhos, só não queriam gerá-los, e assim o fizeram.
Foram dois; um casal. Tão espertos eram, e por que não seriam?
Aos amigos, uma coisa era clara, a educação dada a eles foi digna de mérito.
Mal perceberam e os filhos já trilhavam seus próprios caminhos.
O garoto, agora já um homem formado, era o melhor médico da cidade.
A garota, entrou para o ramo da arte, e tornou-se música de certa fama.
E os pais, orgulhosos ficaram. Criaram com louvor a prole de outrem.
Prole essa, que tivera sorte. A mesma sorte que muitos não conhecem.
Olharam para trás, e lembraram de tudo o que passaram.
Nem tudo fora flores, é claro. Mas por tudo o que viveram até ali,
nenhuma outra palavra era tão mais nítida do que 'sucesso'.
Tiveram êxito em vida, e seguiriam adiante até seus derradeiros momentos."
Histórias como essa, acontecem a todo dia, a todo momento, mas alguns incautos, por ensinamentos da era do bronze, querem brutalmente arrancar o direito cívico de uma minoria de poder ter essa história tão bela. Já vivi no limbo da ignorância e sei o que é ser preconceituoso, e sei o quão irracional é esse sentimento. Esse conto, poderia (e deveria) ser vivido por qualquer um, independente do seu gênero, raça ou crença. Porém, a realidade é outra, e vivemos num mundo de faz de conta, onde as aparências ditam as regras. Padres pedófilos, pastores igualmente, cultos obscuros, onde ainda se pratica o sacrifício animal como forma de oferenda a sabe-se lá o que, dentre outras tantas mazelas da nossa ignóbil sociedade. Valores morais são tão frágeis quanto a mais fina das vidraças, e tão efêmeros quanto a vida de uma mosca. É de se espantar que na era da informação, exista tanta gente desinformada. Até entendo que um dos pilares da ignorância é a preguiça, a mais pura e simples preguiça. Pessoas preferem seguir uma cartilha à terem os seus próprios questionamentos. Há tanto no senso comum que deveria ser extirpado das nossas mentes retrógradas. Há tanto conhecimento além do "arroz com feijão" que é dito há séculos em suas paróquias e centros religiosos em geral.
Foi através de muito suor, muito estudo, que atingimos o atual estado de evolução da humanidade. E ainda assim, em meio a tanta evolução, nos deparamos com guerras sem fundamento, ódio disseminado a esmo contra minorias sociais, violência gratuita e, inclusive, incentivada por quem deveria pregar o amor e a paz. Não precisa ser um gênio para perceber que o conto que dá título ao post remete-se a um casal sem gênero. Poderia ser João e Maria, como poderia ser João e João ou Maria e Maria. E a quem importaria, senão a eles mesmos? Hoje compreendo o quanto estava errado em julgar o homossexualismo como errado. Se um homossexual vier a ser errado, ele não é por ser homossexual, mas sim por suas atitudes. Assim como um pároco não pode ser considerado correto pelo simples fato de ser pároco, mas sim por suas atitudes como ser humano.
Talvez tenha me perdido nas ideias, e possa ter me tornado um tanto quanto disperso. Mas fiz claras referências às práticas religiosas e o preconceito contra os homossexuais, pelo simples fato de que é no cerne das religiões (principalmente as cristãs) onde reside o carro chefe da máquina chamada ódio. São textos como esse (link), que ainda me fazem ter esperança de que, em um dia distante, as pessoas aprendam a respeitar as diferenças. Não digo que aprendi, por que estou em constante aprendizado, filosofando. Mas e você? Já parou para pensar sobre o assunto? Já parou pra pensar que se João e José ou Maria e Joaquina andam de mãos dadas isso nada tem a ver com você? Já percebeu que se não estão fazendo mal a ninguém, que mal tem?